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terça-feira, 13 de abril de 2010

Assassino diz na polícia que não consegue parar de matar

Brasília (AE) - “Não consigo parar de matar, preciso de ajuda para parar com essas coisas”, afirmou ontem, em entrevista à imprensa na Secretaria de Segurança Pública de Goiás, em Goiânia, o preso Admar de Jesus, pedófilo e assassino confesso de seis jovens de 13 a 19 anos na cidade de Luziânia. Na entrevista, ele disse que mantinha um “contrato” com uma quadrilha de traficantes que atua em rede de pornografia na internet, descreveu a extrema violência com que matou os jovens e pediu perdão às mães pelos crimes. “Recebo uma voz do além, que me manda fazer essas coisas, acho que é o capeta”, afirmou. “Eu peço perdão às mães. Não fiz por querer mal, foi por dinheiro”, disse o preso. Ele contou que matou os seis jovens a pauladas e golpes de enxadão e de martelo de pedreiro, quatro deles pelas costas, de surpresa. Dois deles, atacados pela frente, reagiram, mas “não tiveram chance”, porque ele, armado, os dominou.
Dida Sampaio/AEAdmar de
 Jesus, que pediu perdão às mães dos meninos assassinados em Luziânia:  
“Recebo uma voz do além, que me manda fazer essas coisas, acho que é o 
capeta”Admar de Jesus, que pediu perdão às mães dos meninos assassinados em Luziânia: “Recebo uma voz do além, que me manda fazer essas coisas, acho que é o capeta”



















Ao pedir perdão às mães, admitiu que terá que “pagar pelos crimes”, mas tentou se justificar alegando que foi “forçado” a cometer os assassinatos: “Me atiçaram, me atentaram.” Admar de Jesus disse que vinha sendo chantageado por uma quadrilha de traficantes que lida com pornografia na internet. Afirmou que um dos jovens que matou, ao qual identificou apenas como “Zé”, seria intermediário dessa quadrilha.
Acrescentou que, por intermédio desse jovem, a quadrilha o havia contratado por R$ 5 mil para prestar aos traficantes “serviços” como cobrar dívidas, matar alguns devedores do tráfico e produzir pornografia infantil. “Zé” teria procurado Admar com a proposta de cobrar dívidas de drogas de alguns jovens. Na entrevista, Admar disse que manteve relações sexuais com dois dos seis adolescentes, antes de matá-los, e que “Zé” lhe dissera que as imagens pornográficas seriam entregues a um pastor evangélico.
Afirmou que todos os seis jovens teriam envolvimento com drogas e que os convencia a concordarem em entrar na mata convidando-os a fumar maconha. Contou que frequentava uma igreja evangélica em Luziânia e que, imediatamente antes de dois dos crimes, participou de cultos no local. Ao sair, acrescentou, continuava “ouvindo vozes” que o “atiçavam” a matar. Relatou ainda que havia recebido encomenda de mais dois assassinatos de garotos frequentadores de sua casa. Um desses garotos foi detido pela Polícia Federal que, por meio dessa identificação, levantou informações que ajudaram a Polícia Civil a chegar ao matador.
Admar de Jesus disse ainda que, quando era mais novo, foi vítima de abuso sexual e que o pior episódio se deu quando foi assaltado. Nessa ocasião, os assaltantes lhe roubaram tudo, o estupraram e lhe cortaram a língua (ele fala com dificuldade). Afirmou que isso o deixou revoltado e com problemas psicológicos “Não consigo parar de matar, preciso de ajuda para parar com essas coisas.”
Admar disse que, no sábado, na prisão, em Goiânia, tentou se matar enforcando-se com uma blusa, mas ela se rasgou. A uma pergunta se teme ser morto na prisão, respondeu: “Tenho medo, sim, já fui ameaçado e tenho medo de ser morto.”
Ministro da Justiça vê falhas na libertação de assassino
Salvador (AE) - O ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, justificou ontem a série de seis crimes sexuais seguidos de homicídio contra jovens de 13 a 19 anos, como uma “falha do sistema”. O acusado, o pedreiro Admar de Jesus, de 40 anos, já havia sido condenado por violência sexual contra menores de idade e estava preso desde 2005. Em dezembro do ano passado, depois de cumprir quatro anos da pena de 12 anos à qual havia sido condenado, ganhou da Justiça direito a progressão de pena - apesar de um laudo psiquiátrico, apresentado pela polícia goiana, indicar que ele deveria ser mantido “isolado do convívio social”.
“O caso mostra uma falha do sistema, que precisa ser corrigida como um todo”, avaliou o ministro, que participa, em Salvador (BA), do 12º Congresso das Nações Unidas sobre Prevenção ao Crime e Justiça Criminal. “O Poder Judiciário tem o direito de fazer essa liberação baseado na lei. O que me surpreende é que essa liberação aconteça sem o acompanhamento psicossocial desse indivíduo. Como reintegrar à sociedade alguém que não está preparado para conviver em sociedade?”
Para o secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Junior, o ocorrido expõe um problema legal. Em dezembro de 2003, o Congresso aprovou a lei 10.792/03, que introduziu, no artigo 112 da Lei de Execuções Penais, entre outros, a dispensa de avaliação psicossocial para progressão de pena ou outros benefícios para presos. “Isso tem criado muitas dificuldades, não só em casos como esse, mas nas próprias saídas temporárias em datas festivas”, avalia. “Se esse indivíduo tivesse avaliado o grau de risco dele para a sociedade, isso não teria acontecido. Precisamos trabalhar para que a avaliação psicológica volte a ser obrigatória.”
Para o ministro, porém, o principal problema não está na lei. “A lei pode ser aperfeiçoada, claro, mas estamos falando muito mais de um procedimento que precisa ser mais rigoroso do que uma mudança legal”, acredita. “Se há um histórico de violência sexual, de pedofilia, isso mostra um histórico de psicopatia desse indivíduo. Então, essa liberação deve ser acompanhada de um trabalho psicossocial.”
Fonte:Tribuna do Norte

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