Mais de 2 kg de maconha prensada foram apreendidos no fim da manhã de ontem por agentes penitenciários estaduais do Complexo Penal Agrícola Doutor Mário Negócio, situado na zona rural de Mossoró. A droga estava sendo levada pelo assaltante (condenado) João Maria Caxias, que tem 22 anos e vai responder mais um processo. À polícia, ele disse que era o dono da droga, mas a versão não convenceu. Na verdade, ele teria ido buscar a droga e a entregaria ao seu proprietário.
De acordo com o agente Paulo da Silva, que participou da apreensão da droga, eles já tinham informações que presos do regime semiaberto estariam saindo do Complexo Penal para ir buscar drogas e outros produtos nas comunidades rurais próximas. "A gente começou a desconfiar quando passou a encontrar garrafas vazias de cachaça. Então, resolvemos começar a investigar quem é que estaria trazendo essas bebidas para dentro da Mário Negócio", explicou o agente, que ontem de manhã fez uma campana no meio do mato e ficou aguardando o suspeito.
Por volta das 10h30, João foi flagrado quando voltava para a prisão com 2,4 kg de maconha prensada, dividida em dois tabletes fechados e um terceiro aberto. Ele não resistiu à prisão e disse que aquela droga era sua e seria revendida entre os internos do Complexo Penal. Entretanto, esta versão não convenceu os agentes penitenciários. Para Paulo, o preso estava tentando encobrir o verdadeiro dono da droga. Nas prisões, esse tipo de pessoa é conhecido como o "laranja", que assume crimes cometidos pelos outros presos em troca de favores e até mesmo para manter-se vivo.
Mesmo assim, João Maria foi autuado em flagrante por tráfico de entorpecentes e deverá voltar para o regime fechado. Ele foi condenado a cinco anos e quatro meses por um assalto à mão armada e havia progredido do regime fechado para o semiaberto há pouco mais de dois meses. "A gente tem certa que ele não era o dono daquela droga. Ele não tinha condições de comprar tanta droga de uma vez só", comentou Paulo, que teve seu pensamento reforçado pelo próprio detento. João disse que droga custou cerca de R$ 8 mil e que o preço de revenda é R$ 5,00 por trouxinha (unidade).
‘Laranjas’ são comuns no interior das prisões
Para os profissionais que atuam no campo da segurança pública, é muito fácil perceber quando alguém cai em uma "laranjada", que é quando uma pessoa inocente assume o crime cometido por outro.
Na prisão, essa situação é bem comum, segundo os agentes penitenciários que conduziram João Maria ontem à tarde para a Delegacia de Narcóticos (DENARC), onde ele foi autuado em flagrante.
"Ele jamais vai dizer de quem era essa droga. Se disser, pra ele, não vai mudar muita coisa agora. Ele vai responder pelo crime do mesmo jeito e terá que continuar na prisão. Mais cedo ou mais tarde, ele iria aparecer morto se dissesse a verdade", comentou um agente penitenciário, que pediu para não ser identificado.
Paulo da Silva, outro agente penitenciário estadual, disse que é comum apreender drogas e outros objetos próximos à muralha que isola os presos do regime fechado dos demais que estão no semiaberto. "O pessoal do semiaberto é contratado pelos presos do fechado para pegar drogas e outras coisas e joga-los por cima do muro", disse.
Ser "laranja" neste tipo de situação também tem seu lado positivo, na visão dos presos que assumem os crimes dos outros. Além de manter-se vivo dentro da prisão, eles ganham a confiança dos grandes líderes e acabam tendo algumas regalias que os outros não teriam, como proteção contra os demais e outros.
Geralmente, quando é feita uma apreensão de droga ou outros objetos dentro de uma cela, o preso que se identifica como o proprietário não é o verdadeiro dono. Antes de ser feita a operação, os "chefes" e os "laranjas" fazem um pré-acordo e caso haja a apreensão, o laranja assume a autoria.
FONTE: JORNAL DE FATO
FOTOS: WILSON MORENO
Nenhum comentário:
Postar um comentário