Na década de 80 a proporção era de 40 homens infectados com o vírus do HIV para uma mulher. Nos anos 90 esse número era de 20 homens infectados para cada mulher. E hoje o levantamento divulgado, no último dia primeiro, pelo Ministério da Saúde, aponta que a proporção é que a cada dois homens uma mulher tem o vírus da doença.
Outro dado relevante diz respeito à faixa etária dos portadores da doença. No RN, observa-se uma maior concentração de casos (81%) entre pessoas de 20 a 49 anos. Justamente a faixa de idade de Jane e de outras tantas mulheres que já possuem relacionamentos maritais.
emanuel amaral
Jane Damasceno diz que primeiro contou ao filho que estava com câncer, mas no dia seguinte contei a verdade: “estou com o vírus HIV”
“Eu descobri que tinha a doença por acaso. Fui ao médico e pedi para fazer o exame da AIDS. Ele perguntou se eu estava sentindo alguma coisa, mas acabou solicitando os exames. E para minha surpresa, o resultado foi positivo. Fiquei sem entender porque eu vivia maritalmente com um companheiro e não imaginava nunca que pegaria a doença”, conta Jane.
Ela diz ainda que ao sair do Hospital Giselda Trigueiro, pensou em se jogar na frente de um carro, pois tinha certeza que não resistiria à doença por muito tempo. “Só depois de cinco dias eu criei coragem para contar ao meu filho que estava doente. “Menti, disse a ele que era câncer porque não queria que ele sofresse. Mas, no dia seguinte contei a verdade e disse que estava com o vírus do HIV. Foi muito triste ver o sofrimento do meu filho, mas foi ele que me deu forças para lutar pela minha vida”, diz Jane.
IDOSOS
Ainda de acordo com o boletim epidemiológico da Secretaria Estadual de Saúde, também houve um crescimento nos casos de AIDS em pessoas acima de 50 anos. Em 2000, o total de notificações para essa faixa etária era de 13 casos, passando para 55 em 2008 e 53 no ano passado. Para os especialistas, o aumento está relacionado ao fato dos idosos estarem fazendo mais sexo. Diferente do que acontecia há alguns anos, hoje muitos fazem uso de medicamentos que ajudam na ereção e têm a possibilidade de prolongar sua vida sexual.
JOVENS
A infectologista Marise Reis faz um alerta à população jovem do Rio Grande do Norte. “De acordo com uma pesquisa feita pelo Ministério da Saúde, em 2008, 90% dos nossos jovens sabiam que como se transmite a AIDS, mas 60% deles não usam camisinha nas sua relações sexuais. E mostra que falta empenho da sociedade, que não faz a sua parte nessa luta contra a doença”, diz a médica.
Por isso nunca é demais lembrar que é importante utilizar o preservativo nas relações sexuais, principais nas casuais. “Se você manteve relações sexuais sem camisinha deve esperar aproximadamente um mês e depois faça um teste de HIV”, alerta a infectologista.
Aumenta incidência de casos em menores de cinco anos
Mas um dado preocupante está relacionado com a incidência da AIDS em menores de cinco anos. De 2000 a 2009, no RN foram identificados 38 casos da doença nessa faixa etária, representando um aumento de 1,7% no período.
Para a infectologista Marise Ribeiro, o aumento dos casos nessa faixa etária reflete o problema da mulher jovem que não tem acesso ao sistema de saúde. “É inadmissível que os bebês nasçam com AIDS. Hoje todas as mulheres grávidas têm o direito de fazer o teste de HIV no pré-natal. E se ela for positiva, vai ter acesso ao medicamento antirretroviral, que possibilitará a não transmissão da doença para a criança. Com esse medicamento, a chance de transmitir é menor que 2%, já sem o remédio essa possibilidade passa para 40%”, explica Marise Reis.
Esse grupo – das criança menores de cinco anos – acaba prejudicado pela falta de responsabilidade ou de esclarecimento das mães, pois adquirem a doença intraútero, durante o parto ou amamentação.
Mesmo quando a gestante recebe o retroviral pouco tempo antes do parto, as chances de transmitir o vírus do HIV são menores. “O acesso ao tratamento da AIDS é universal e gratuito. Os medicamentos – o coquetel – é distribuído na rede pública de saúde a todos que precisem”, diz Marise.
“Nenhum portador do vírus leva uma vida normal”
A popularização dos medicamentos antirretrovirais (coquetéis) – que surgiram na década de 1980 – percebe-se uma banalização da AIDS. É como se o ‘coquetel’ matasse o vírus do HIV, o que não acontecesse. O remédio ajuda a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico.
“As pessoas pensam que depois do coquetel da AIDS ficou mais fácil, mas nenhum portador do HIV leva uma vida normal. A gente fica preocupado com a hora de tomar o remédio, com a alimentação. É muito complicado”, conta a dona de casa Jane Nascimento. Ela toma 12 tipos de medicamentos diferentes todos os dias. A maioria deles provoca efeitos colaterais como diarréia, tontura, osteoporose, entre outros. Com tantos contratempos fica realmente difícil levar uma vida normal.
A dona de casa alerta ainda para que não haja uma banalização da doença e que as mulheres se imponham na relação sexual, exigindo o uso do preservativo. “Muita mulher pede ao parceiro para usar a camisinha, mas ele reclama e logo desconfia dela, quando na verdade, ela está querendo apenas se proteger. A única coisa que pode salvar você de pegar AIDS é a camisinha”, orienta Jane.
A infectologista Marise Reis explica que a mulher tem mais chances de se contaminar porque é ela quem entra em contato com o esperma. Dessa forma se tornam mais vulneráveis ao vírus.
“Mas todos, independente de sexo e orientação sexual estão sujeitos a adquirir a doença. No Brasil, cerca de 600 mil pessoas já adoeceram e no mundo, mais de 30 milhões já morreram vítimas da AIDS”, alerta a médica.
APOIO
Para auxiliar os pacientes portadores de AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis, há dois anos surgiu o Grupo de Apoio aos Portadores de Doenças Incuráveis (GAPDI). A ONG realiza trabalho social, apoio psicológico, distribuição de alimentos para cerca de 45 famílias de Natal e Grande Natal. Entre os beneficiados estão a dona de casa Jane Damasceno. “Eles me ajudam bastante, tanto na questão da alimentação quanto no apoio psicológico. E sem a força do pessoal do GAPDI seria mais difícil”, diz Jane.
O GAPDI sobrevive das doações de voluntários. A única contribuição do poder público é com a distribuição de preservativos. “Por isso contamos com a ajuda da população. Quem puder, pode fazer doações na conta corrente da Caixa Ecônomica: 00000373-5, agência: 0034 e operação: 003”, diz a presidente da GPDI, Agna Lima.
Carla França - Repórter
Fonte: Tribuna do Norte
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