Em Extremoz, polícia não conseguiu prender suspeitos de nove estupros. Na Delegacia da Mulher, apoio psicológico tem ajudado mulheres abusadas.
Considerado um crime hediondo e recriminado até mesmo pelos bandidos, o estupro se tornou uma realidade preocupante em Extremoz. Aliado a isso, outro fator tem dificultado o trabalho policial e, consequentemente, a elucidação desse tipo de crime: o medo. Em um ano, foram nove casos naquele município e, até agora, ninguém foi preso.Para o delegado Pedro Paulo Falcão, a fragilidade com que as vítimas ficam após o abuso é tão grande que elas praticamente travam. “Esse é o tipo de crime difícil de elucidar. Quando uma mulher é abordada por um estuprador, ela tem um trauma muito grande que não consegue racionalizar a situação e identificar características do criminoso”, afirma.
No caso de Extremoz, o delegado ouviu várias pessoas e chegou, inclusive, a deter um suspeito. Contudo, ele não foi reconhecido por nenhuma das vítimas. “Nós estamos trabalhando com a ideia de que não é a mesma pessoa que está cometendo esses estupros, até porque eles aconteceram em locais diferentes”.
Pedro Paulo Falcão explicou que nesta semana um homem foi levado até a delegacia para que fosse reconhecido. “Nós fizemos dois tipos de reconhecimento, um pela voz, onde as vítimas comparavam com as vozes de outros homens, mas, nenhuma confirmou que fosse ele”, disse.
A outra forma foi através do peito do suspeito. “Uma das mulheres informou que o criminoso tinha o peito cabeludo, então pedimos que ela visse, mas, também não reconheceu”. De acordo com o delegado, na maioria dos casos, o bandido estava usando uma camisa na cabeça ou o local do estupro era escuro, impossibilitando a visualização.
O escuro, aliás, é apontado pelo delegado como um grande atrativo para os estupradores. “Teve um caso em que um casal namorava embaixo de uma árvore, próximo a um matagal. O estuprador chegou lá, rendeu o homem e o amarrou e depois estuprou a mulher”, contou Pedro Paulo.
Em um dos casos de estupro do município de Extremoz, a vítima informou à polícia que o bandido tinha a voz grossa e era gago. Além disso, ele era cabeludo, e aproximadamente 1,75 m. “Infelizmente, o medo de denunciar nesses casos atrapalha muito. Essas mulheres que são violentadas não conseguem nem prestar depoimento direito, algumas só vão à delegacia porque os familiares insistem”.
Delegacia de Mulher
Preocupada justamente com o trauma, a polícia tem desenvolvido alguns mecanismo de apoio a mulheres vítimas de violência, não só sexual, como doméstica. Na Delegacia da Mulher, por exemplo, o atendimento a esse tipo de ocorrência é quase que imediato.
Lá, as mulheres recebem total apoio psicológico. De acordo com o delegado Pedro Melo, inclusive uma casa abrigo é disponibilizada para as vítimas de abuso. “Assim que chega aqui, a mulher recebe a assistência social e é conduzida até uma casa abrigo. O local dispõe de total segurança, inclusive, nem nós mesmos da delegacia sabemos onde fica”, garante.
O delegado ressalta que as vítimas passam os dias que forem necessários para sua recuperação emocional e garantia de sua integridade. Até mesmo filhos pequenos podem acompanhá-las na casa abrigo. O local é protegido pelo Ministério Público.
“A grande diferença da Delegacia da Mulher para as outras é o atendimento imediato. Por exemplo, se uma vítima chega aqui e diz que apanhou do marido, na mesma hora, os agentes vão em busca do acusado e o prende. Essa resposta tem que ser dada e foi reforçada depois da criação da Lei Maria da Penha, antes dela, o agressor era apenas notificado, agora ele é flagranteado”, comenta.
Pedro Melo destacou também que apesar de todas essas garantias de segurança, muitas mulheres continuam com medo de denúncia. “Durante todo o ano passado, por exemplo, a Delegacia de Mulher registrou apenas quatro denúncias de estupro. O número é muito pequeno, considerando o tamanho de Natal”.
O delegado confirma que em casos de estupro o trauma é irreparável. “Essas mulheres chegam aqui em situação de risco e extremamente fragilizadas. Com isso, é feito todo um trabalho com medidas protetivas, de acompanhamento 24 horas por dia. As vítimas de abuso não precisam ter medo da polícia, podem procurar a delegacia de mulher e denunciar”.
O telefone da unidade policial voltada para esse tipo de crime é o 3232-2530. “Hoje, se tem mais segurança em denunciar”, ressalta o delegado Pedro Melo.
fonte:nominuto
Nenhum comentário:
Postar um comentário